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Sítio Daniella, em Pardinho, centro-oeste paulista, confirma vocação da região para a produção de cafés especiais

02 de junho de 2020

A valorização dos cafés especiais produzidos no local alimenta o sonho dos produtores em conseguir o certificado de Denominação de Origem

O Sítio Daniella (www.sitiodaniella.com.br), certamente, é tão conhecido no mundo dos cafés especiais como a proprietária que deu nome ao lugar, Daniella Pelosini, graças ao seu protagonismo como produtora, num universo predominantemente masculino, cujas heranças arcaicas ainda prevalecem.

Antes de mais nada, Daniella é uma mulher fazedora, que não tem medo de por a mão na massa e o coração em tudo aquilo que se dedica a fazer. Sobretudo, com o Sítio não é diferente. Quando nossa equipe chegou ao local, tivemos a oportunidade de observar a propriedade por algum tempo antes que ela se juntasse a nós. E foi fácil identificar em cada pedaço do Sítio a força da mão feminina na condução dos negócios.

Tudo meticulosamente arrumado, pintado, limpo, dando a impressão de que é fácil administrar uma fazenda de cafés especiais. Não é, mas, para ela, é simplesmente natural.



De pai para filha
A princípio, a propriedade foi comprada por seu pai, Laerte Pelosini Filho, em 1977, quando se separou da ex-mulher, mãe de Dani. Como ele queria ter certeza de que continuaria convivendo com a filha e, conhecendo sua paixão por bichos, especialmente por cachorros e cavalos (praticou equitação por muitos anos), dessa forma, pensou que o Sítio seria um jeito de mantê-la sempre por perto. Deu certo!

“Quando minha família comprou as terras, não tinha nada. Foram meu pai e meu avô que formaram absolutamente tudo, bem aos pouquinhos. Aqui tinha um pouco de milho, gado e café, que foi praticamente dizimado na grande geada de 1976”, conta.

Se dedicaram por muitos anos à produção de gado leiteiro enquanto Dani se dividia entre o curso de economia na FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado) e o plantel, seu atributo, dos 18 aos 26 anos.

Quando desistiram de produzir leite B, passaram a investir mais fortemente nos cafés e Dani mudou-se de São Bernardo, onde morava com a mãe, para ficar definitivamente no Sítio.

Participação em concursos
“Havia uma cooperativa em São Manuel, que começou a promover alguns concursos regionais de café e nós participávamos. Começamos a pontuar e, partir daí, resolvemos realmente investir na via úmida, comprando um lavador de cafés e um secador. E fomos só crescendo”, lembra a produtora.



Ela ainda recorda que já tinham participado de alguns concursos estaduais e, num deles, ficaram em segundo lugar, alcançando uma nota muito boa. Num evento, foi apresentada ao senhor Aldir Alves Teixeira, uma lenda viva da illy leia matéria completa sobre ele no link, que a incentivou a enviar amostras de seus cafés para o concurso da empresa.

No primeiro ano, seus cafés não foram aprovados por conta do excesso de umidade. A illy tem um padrão muito rígido em relação aos cafés que compra ao redor do mundo. Mas já na segundo tentativa, foram aprovados e passaram a ser fornecedores da empresa. Pouco tempo depois, Dani recebeu uma ligação da empresa avisando que havia sido selecionada entre os 40 melhores cafés da illy. “A lista era surreal, eram 38 produtores mineiros, a gente e o Fávero, produtor de Piraju, que no ano anterior havia sido escolhido como o campeão brasileiro da illy”, emociona-se.

Há três anos participam do concurso se mantenho na lista dos 40 melhores, mostrando uma constância na qualidade.

Variedades na produção dos Cafés Especiais
Com 79 hectares e cerca de 200 mil pés de cafés, o Sítio Daniella está numa altitude máxima de 1007 metros e mínima de 930 metros. Cerca de 60% de toda a sua produção é de cafés especiais, que saem de seus Catuaí Vermelho IAC 144, o Catuaí Amarelo IAC 162, um pouco de Tupi IAC 1669-33 e, nesse momento, está testando o Aranãs. “Fizemos uma rua de Aranãs e deu uma pequena produção de um café maravilhoso, veio meio com uma cor alaranjada, um grão enorme. Os Q-Graders que provaram perceberam um tom de erva cidreira, estou muito esperançosa com essa variedade. Tô com muita vontade de fazer um talhão só de Aranãs porque a verdade é que ele tem que gostar do lugar e parece que o Aranãs gostou de Pardinho”, explica.



Como vegetariana, Daniella conta que se preocupa muito com a produção mais natural de seus cafés. “Todos os nossos talhões terminam ou começam num lado de mata, e temos a preocupação de recompor a mata nativa numa área de 12 hectares, que integrará capões remanescentes de Mata Atlântica, encontradas em 1977. Nossa proposta é criar corredores contínuos de mata para ajudarmos na preservação da fauna e flora nativas”, conta orgulhosa.

Cafés biológicos
“Sou vegetariana há mais de 20 anos, tomo todo o cuidado possível com o que coloco pra dentro do meu corpo. E não podia ser diferente com os cafés que produzo, já que eu também os bebo. Nesse momento, estou fazendo uma experiência com cafés biológicos num talhão do lado do lavador. Trata-se de um IAC 144, que está crescendo só com adubo organomineral, tecnologia que contribui para a agricultura de baixo carbono, por reduzir a emissão de gases de efeito estufa decorrentes da aplicação superficial de resíduos orgânicos, segundo a Embrapa”, diz.

O experimento começou em setembro do ano passado em um talhão de dois hectares. “Estudos preliminares indicam que a utilização do adubo organomineral pode aumentar a nota no café em alguns pontos. Ideal para quem produz cafés especiais”, exemplifica.



Dani faz questão de deixar claro que sua produção de cafés especiais não tem um planejamento engessado. “Cada café precisa de alguma coisa, eu tenho que olhar pra cada cafezal e entender o que ele está precisando naquele momento. Muitas vezes, as folhas estão lindas, verdes, não estão precisando de nada. Só de atenção e carinho. E quem trabalha com produção agrícola tem que ter a humildade de entender que não temos controle sobre tudo. É um aprendizado constante. Temos que olhar o cafezal, respeitar e só depois, se necessário, agir para corrigir algo”, enfatiza.

A colheita
O Sítio Daniella tem apenas quatro funcionários fixos e faz uma colheita mecanizada seletiva. Na época da colheita, contrata em média, 40 pessoas, todas vindo de Minas. “Por aqui, não existe mais esse tipo de mão de obra. Então, trazemos o pessoal e os colocamos em alojamentos apropriados”, diz. Por conta de todos os cuidados, conseguiram resolver o problema da colheita tardia, uma característica da região. “Por volta do dia 10 de julho estamos começando a colher. Antes, ela só começava em agosto, quando em Minas o café já havia sido colhido”, explica.



Muita gente, principalmente no exterior, torce o nariz quando se fala em colheita mecanizada de cafés especiais. Mas a realidade é que sem mecanizar, no Brasil, não há como sobreviver, principalmente numa região tão perto da maior metrópole da América do Sul, onde as oportunidades de emprego são muito mais atraentes para os trabalhadores.

E para mecanizar, Daniella teve que mudar o espaçamento entre os pés de café, que agora são de 3,5 metros por 60 centímetros de distância de cada pé. “Dei uma bobeada na parte de renovação da lavoura. Já poderia ter feito, estava na programação, mas aí estourava de produzir e eu adiava. Agora não. A gente está com um talhão de 10 hectares esqueletado, um talhão com recepa e dois talhões com apenas um ano e meio. O resultado é que em 2019 teremos uma produção muito pequena. Mas ano que vem será fantástica”, afirma.

Projeto Florada Premiada
A 3Corações promoveu, no ano passado, em parceria com a BSCA, Brazilian Specialty Coffee Association, a primeira edição do concurso Florada Premiada, com o objetivo de valorizar o trabalho das cafeicultoras brasileiras. Além de criar uma plataforma de difusão de melhores práticas, a empresa está lançando microlotes batizados de “Rituais Florada Premiada”, de produtoras que venceram o concurso. Entre eles está o café de Daniella, classificado como campeão da região Ourinhos & Avaré, via úmida, safra 2018/19. Segundo a 3Corações, 100% do lucro na venda dos microlotes será revertido para as produtoras. www.projetofloradapremiada.com.br



Pardinho como Denominação de Origem
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, IFSP, Campus Avaré, está a frente de um projeto de associação de marcas coletivas de diversos produtos e serviços, da região da Cuesta de Botucatu, que compreende diversos municípios vizinhos.

A marca coletiva é um sinal visualmente perceptível, como um selo, por exemplo, que visa diferenciar produtos ou serviços provindos de membros de determinada entidade coletiva como associação, cooperativa, sindicato etc.

Dentre essas marcas coletivas estará o café especial produzido na região de Pardinho. “É o primeiro passo para, num futuro breve, reivindicarmos uma denominação de origem”, explica Daniella.



Cafés especiais Fair Trade
O Sítio Daniella se juntou à Cooperativa Prata de Cafés Especiais, de São Manuel, de produtores familiares, e está empenhada em divulgar a qualidade dos cafés especiais do centro oeste de São Paulo. “Queremos recuperar o prestígio perdido da região, que perdeu espaço para Minas, por uma série de fatores, não só qualidade”, conta.

A ideia é divulgar dos pequenos produtores da região por meio da Cooperativa, a ajudá-los a produzir um café especial de alta qualidade FairTrade.



“Vamos construir aqui no Sítio uma sala de prova e classificação para que os pequenos produtores se certifiquem da qualidade de seus cafés e os vendam por um preço justo. Café FairTrade não necessariamente é um produto de alta qualidade. Queremos mudar essa realidade. Fizemos uma parceria com uma empresa no Japão, para que o café do produtor consiga chegar sem tantos atravessadores até a um mercado consumidor altamente exigente”, finaliza.

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